"A CALHA": A CORAGEM DE JESSICA MARTINELLI.
Neste conteúdo, Jessica Lais Martinelli, policial civil e autora do livro "A Calha", nos apresenta seu exemplo de coragem, superação e busca por justiça. Vítima de abuso sexual na infância, ela conseguiu transformar sua dor em força e, anos depois, participou da prisão de seu agressor. Seu livro narra essa trajetória e busca sensibilizar a sociedade sobre a realidade do abuso infantil e a importância da denúncia e acolhimento das vítimas. Confira e saiba mais em www.hextramurospodcast.com!
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- 'Coragem e medo', diz policial que prendeu homem que abusou dela | WH3 - Sistema 103 - Rádio Raio de Luz - Rádio Lider - Jornal O Lider
- A Calha | Loja Skeelo
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Transcript
Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, recebo Jéssica Laís Martinelli, policial civil e autora do livro "A Calha". A história de Jéssica é um exemplo de coragem, superação e busca por justiça! Vítima de abuso sexual na infância, ela conseguiu transformar sua dor em força e, anos depois, participou da prisão de seu agressor. Seu livro narra essa trajetória não apenas como um testemunho pessoal, mas, como uma ferramenta de conscientização e enfrentamento a um problema social alarmante, expondo a realidade do abuso infantil e suas consequências devastadoras, destacando a importância da denúncia para romper ciclos de violência e garantir que os culpados sejam responsabilizados. Além disso, a obra enfatiza o papel essencial do acolhimento às vítimas, mostrando como a escuta ativa, o suporte psicológico e o apoio das instituições são fundamentais para a reconstrução da vida daqueles que passaram por essa experiência traumática. Jéssica; honrado pela sua participação, dou-lhe as boas-vindas e agradeço imensamente a sua pronta resposta ao meu convite! Antes de entrarmos nos detalhes do seu livro, gostaria que você nos contasse um pouco sobre sua trajetória pessoal e profissional. O que te motivou a ingressar especificamente na Polícia Civil e, posteriormente, a compartilhar sua história por meio da escrita da obra?
CONVIDADA:Olá, Washington! Agradeço o interesse e a oportunidade de estar falando com as pessoas que te acompanham! Sim! Posso dizer que o que me motivou a entrar para a Polícia Civil é uma mistura de revolta e de desejo por justiça! Eu cresci vendo o impacto que a violência, que o abuso na vida das pessoas gera e eu senti uma necessidade muito grande de fazer algo nesse respeito. Depois do que eu vivi na infância, eu entendi que muitas vítimas não tinham voz, nem apoio, instrução, conhecimento. E eu queria ser parte dessa mudança! Ao longo da minha profissão, eu percebo ainda que o sistema é falho, muitas vezes, em acolher a quem precisa. Isso me fez, sim, querer fazer muito mais no meu trabalho e encontrar uma forma de conscientizar e impactar as pessoas. Foi então que surgiu essa ideia de escrever "A Calha!. Eu sabia que precisava contar essa história, não por mim, somente, mas por todas as vítimas que ainda vivem nesse silêncio, que é tão doloroso! Escrever foi uma forma de transformar a minha dor em força e, ao mesmo tempo, mostrar que é possível, sim, fazer justiça!
ANFITRIÃO:"A Calha" é um livro que expõe uma vivência extremamente dolorosa, mas também mostra sua força! Como foi o processo de escrita e reviver esses momentos?
CONVIDADA:Escrever "A Calha" foi um processo muito intenso, tanto de forma emocional quanto de forma técnica! Reviver cada detalhe descrito nesse livro exigiu muito de mim, porque também foi uma forma de me libertar dessa dor. Eu precisava contar essa história não só por mim, mas por todas as vítimas que, assim como eu, já sentiram medo, já se sentiram impotentes! Houveram muitos momentos difíceis! Momentos que eu precisei parar, respirar fundo, secar lágrimas para dar continuidade. Só que, o objetivo, sempre foi maior do que a dor!
ANFITRIÃO:No livro, você aborda a desestruturação familiar e suas consequências. Como essa realidade influencia a ocorrência de abusos e a dificuldade das vítimas em denunciar?
CONVIDADA:A desestruturação familiar cria, sim, um ambiente propício para o abuso porque, muitas vezes, a criança não tem um adulto que ela sinta confiança para protegê-la e para ouvi-la! Quando falta esse núcleo familiar seguro para a vítima, essa vítima pode se sentir isolada, sem ter uma referência de proteção ou mesmo alguém que acredite no seu sofrimento. Muitas vezes, os abusadores estão dentro da própria casa; sendo pais, padrastos, tios, avós e usam dessa posição para silenciar a criança e, na maioria das vezes, também, essa criança não entende o caráter ruim disso, até que ela comece a se desenvolver! Em famílias desestruturadas, onde há essa negligência, ou uma violência, ou ainda uma dependência química, seja por drogas ou álcool, a vítima tem mais dificuldades ainda de entender o que está acontecendo, entender que isso é errado e, principalmente, encontrar alguém que acredite nela! Ela, com certeza, vai carregar medo de ter represálias, a vergonha, a dependência emocional ou mesmo financeira que esse agressor proporciona, o que torna a denúncia ainda mais difícil! Quando não existe uma rede de apoio que realmente ofereça uma segurança, muitas vítimas acabam sendo silenciadas por anos, ou às vezes até para sempre! As vítimas acabam carregando isso e não contam para ninguém!
ANFITRIÃO:Você já trabalhava como policial civil quando participou da prisão do seu agressor. Qual foi o impacto emocional e profissional desse momento para você?
CONVIDADA:Foi um impacto gigante na minha vida! Até porque eu tinha apenas um mês de exercício como policial civil. Quando eu participei da prisão do meu agressor, eu ainda estava em um processo de adaptação da rotina da polícia, aprendendo sobre as práticas. E, de repente, eu me vi diante de um caso que mudou a minha vida! Afinal, era sobre mim! Era da minha história! Emocionalmente, foi um choque! Eu sonhei, sim, durante anos que aquele momento viesse a acontecer, mas, quando ele aconteceu, foi um misto de alívio, de justiça, mas, também, de muita dor! Tiveram momentos que eu voltei a ser aquela criança de 11 anos. O ato da prisão, simplesmente, não apaga tudo o que você vive, mas, claro que ele simboliza, sim, o fim de um ciclo de impunidade! Posso dizer que cuidar disso, prender o meu agressor, moldou a minha visão sobre o meu trabalho! Me fez entender que ser policial não se trata apenas de prender criminosos, mas se trata de dar voz às vítimas, de garantir que elas sejam ouvidas, que elas sejam protegidas! E isso fez com que se tornasse a minha missão na polícia, que é ver que era algo pessoal e que eu precisava lutar por justiça para outras vítimas. E eu carrego esse sentimento comigo até hoje!
ANFITRIÃO:Qual a importância do acolhimento às vítimas de abuso infantil e quais são as principais falhas que você percebe no sistema de proteção atualmente?
CONVIDADA:O acolhimento das vítimas, com certeza, é fundamental, porque quando uma vítima se sente escutada e protegida, ela tem, sim, mais chances de reconstruir a sua vida! O problema é que o nosso sistema, ele ainda é fálho! Falta preparo dos profissionais! Falta uma estrutura mais adequada! Falta uma rapidez nas investigações que, isso, também, diz respeito a baixo efetivo de servidores e, muitas crianças também, em alguns locais, precisam retratar inúmeras vezes o que aconteceu, sendo repentinizadas, sem que isso muitas vezes leve à condenação que ela está buscando!
ANFITRIÃO:Como sua experiência pessoal e profissional te ajudou a enxergar a necessidade de mudanças nas políticas de enfrentamento ao abuso infantil?
CONVIDADA:Viver essa realidade como vítima, principalmente antes da alteração legal onde, na minha região, não tinha delegacia especializada, o crime de estupro de vulnerável tinha uma pena muito branda, me fez perceber, como vítima e, hoje, como policial, que nós precisamos atender com uma abordagem mais humanizada e eficaz! E isso se dá com a criação de delegacias especializadas - que em muitos locais tem -, atendimento psicológico - que deve ser concedido por meio do Sistema Único de Saúde de uma forma contínua para as vítimas -, e muito mais campanhas educativas. Isso é essencial! Nós precisamos endurecer ainda mais as penas para esses abusadores, que é uma pena que já aumentou, mas que, com certeza, pelas sequelas que ela deixa, ela tinha que aumentar muito mais, além de combater a impunidade!
ANFITRIÃO:Você está escrevendo um novo livro sobre violência doméstica. Como essas temáticas se conectam e o que podemos esperar dessa nova obra?
CONVIDADA:Esses temas, eles se conectam, porque eles fazem parte de um mesmo ciclo de violência! O abuso infantil e a violência doméstica não são eventos isolados! Muitas vezes, estão entrelaçados em padrões de poder, de silenciamento, de impunidade! No meu caso, eu fui vítima um ano e meio depois de prender o meu agressor! Foi um choque! Porque eu achava que pelo fato de ser policial, eu estava imune desse tipo de situação! A verdade é que a violência doméstica não escolhe profissão, classe social ou idade! Ela se infiltra nas relações, muitas vezes de uma forma sutil e, quando a gente percebe, a gente está presa num ciclo de manipulação e medo! Esse novo livro vai mostrar como essa violência se manifesta e como mulheres, mesmo as que se consideram fortes e independentes, também podem acabar num relacionamento abusivo. Quero trazer essa visão realista, sem romantização, mas também com um olhar de esperança e de superação. Assim como "A Calha" buscou dar voz às vítimas de abuso infantil, esse novo livro pretende dar voz às mulheres que vivem ou que viveram relacionamentos violentos, além de mostrar caminhos para romper esse ciclo.
ANFITRIÃO:Jéssica, chegando ao final de nossa conversa, a parabenizo pela jornada incrível de superação! Desejo muito sucesso na divulgação de seu livro! Deixo este espaço para suas considerações finais. Muito obrigado e grande abraço!
CONVIDADA:Muito obrigada pelo espaço e pela conversa! Falar sobre esses temas é essencial para quebrarmos o silêncio e darmos mais visibilidade para as vítimas. Minha história não é só minha. Ela é uma história de muitas pessoas que passaram por abusos e violências e muitas vezes não encontraram o apoio e a justiça que mereciam! Se tem algo que eu quero que fique dessa conversa é que ninguém precisa carregar a sua dor sozinho. A denúncia salva vidas e o acolhimento transforma realidades! Se você que está ouvindo vive ou conhece alguém que enfrentou ou que enfrenta uma situação de abuso ou violência, saiba que há saída, há apoio e há justiça! Acompanhem o meu trabalho nas redes sociais, onde eu sigo falando sobre temas e compartilhando a minha trajetória. O meu livro, "A Calha", está disponível para quem quiser conhecer mais dessa história. Que a gente siga juntos nessa luta por um mundo mais seguro e mais justo!
ANFITRIÃO:Honoráveis Ouvintes! Este foi mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, conversei com Jéssica Martinelli, policial civil, autora do livro "A Calha", publicado pela Editora Viseu. Acesse nosso website e saiba mais sobre este episódio! Inscreva-se e compartilhe nosso propósito! Será um prazer ter a sua colaboração! Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!