ASPECTOS DA SEGURANÇA ADMINISTRATIVA - TÁTICA E OPERACIONAL. Capítulo 2
Na conclusão da entrevista com RANGEL SCHVEIGER, um experiente policial penal, especialista em segurança pública e autor do livro "Segurança Administrativa - Tática e Operacional – onde o elo fraco não pode existir", investigamos as estruturas contemporâneas dos mundos VUCA, BANI e RUPT, elucidando sua aplicabilidade como ferramentas de diagnóstico para navegar pelas complexidades e instabilidades inerentes aos ambientes penais. Nosso convidado apela à necessidade premente de os profissionais penais cultivarem competências adaptativas, enfatizando a resiliência, a inteligência emocional e o imperativo de aderir meticulosamente aos protocolos operacionais como elementos fundamentais de sua prática. À medida que o diálogo avança, as ramificações éticas e os encargos emocionais suportados por esses profissionais são abordados, ressaltando a interseção vital da saúde mental e da eficácia operacional dentro do contexto penal. Em última análise, o episódio serve como um apelo ao reconhecimento e apoio institucional, defendendo uma abordagem transformadora que eleva o papel do policial penal de mero executor a um agente fundamental de mudança e segurança institucional.
Saiba mais!
- O Livro
- VUCA, BANI, RUPT? Oi? Que mundo é esse? - Agência em Bauru especializada em Comunicação, Branding e Design
- O que é liderança transformacional e liderança transacional?
- Burnout — Ministério da Saúde
- Fintechs: o que são, onde atuam e impactos no mercado
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Transcript
Honoráveis Ouvintes! Sejam muito bem-vindos a mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark dos Santos, seu anfitrião!
No conteúdo de hoje, finalizo a valiosa e instigante conversa com Rangel Schveiger, policial penal e autor do livro "Segurança Administrativa - Tática e Operacional- onde o elo fraco não pode existir".
Antes de retomarmos, sugiro aos que ainda não ouviram a primeira parte que retornem ao conteúdo anterior e não percam as percepções ali contidas, tais como liderança legítima no cárcere, segurança administrativa e os procedimentos operacionais padrões - POPs - como instrumentos de prevenção e sobrevivência!
Agora, na sequência da nossa entrevista, com os pés firmes na prática real do sistema prisional brasileiro, vamos nos aprofundar nos conceitos contemporâneos dos mundos VUCA, BANI e RUPTI, além dos impactos emocionais e éticos que recaem sobre os profissionais da polícia penal.
Rangel; no seu livro, você apresenta três modelos conceituais muito utilizados no meio corporativo e militar - VUCA, BANI e RUPT - como ferramentas interpretativas da realidade prisional. Como esses modelos contribuem para que o profissional da polícia penal compreenda e atue melhor em um ambiente instável, imprevisível e muitas vezes violento?
CONVIDADO:Exatamente! Eu trouxe esses modelos de mundo para o livro porque a primeira etapa para dominar um ambiente caótico é conseguir diagnosticá-lo corretamente. Muitos policiais, durante o exercício do trabalho, sentem a instabilidade e a imprevisibilidade no dia a dia.
Isso também nos permite ir além da simples constatação de problemas como a superlotação e a falta de efetivo para diagnosticar a essência da desordem e a inconstitucionalidade na qual operamos. No livro, o argumento é que, embora que o mundo VUCA e o mundo BANI sejam úteis, é o modelo do mundo RUPT que descreve com mais precisão a realidade prisional. E entender isso muda tudo, porque o ambiente não é só volátil, ele é rápido! Uma informação falsa pode gerar uma crise em minutos! Não é apenas incerto! Ele é imprevisível! Alianças entre facções mudam da noite para o dia e, o que funcionou ontem pode ser uma armadilha hoje. Não é só ambíguo, ele é paradoxal, porque, muitas vezes, uma ação de controle mais enérgica, em vez de gerar ordem, pode, paradoxalmente, aumentar a tensão e a resistência! E, acima de tudo, ele é emaranhado! Um conflito na rua tem reflexo imediato nas galerias! Uma decisão judicial afeta a dinâmica de poder interna! Tudo está interligado. E, aí, eu faço uma pergunta dentro dessa resposta: "então, como isso ajuda o profissional a atuar melhor?" Vou dividir em duas partes.
Primeiro: porque promove um choque de realidade estratégico! Ao internalizar que o ambiente é RUPT, o policial abandona a mentalidade rígida e linear. Ele entende que não existe uma fórmula mágica ou um procedimento operacional único, que sirva para tudo! Isso o força a ser mais adaptável e a pensar taticamente em tempo real. E, em segundo, justifica a necessidade de novas competências. Quando você entende a natureza do caos, fica óbvio que habilidades como resiliência, inteligência emocional e a liderança adaptativa não são luxos, mas, sim ferramentas de segurança indispensáveis para não sucumbir ao estresse e à pressão! E, por fim, reforça a importância vital dos próprios alicerces da segurança administrativa. Em um mundo imprevisível e emaranhado, a única coisa que você pode controlar com 100% de certeza é o seu próprio processo! Por isso, a adesão rigorosa aos Procedimentos Operacionais Padrão, o planejamento meticuloso e o registro detalhado de cada ação se tornam seus portos seguros, suas âncoras na previsibilidade no meio dessa tempestade! Em suma, esses modelos não são teoria acadêmica. São ferramentas de diagnóstico que permitem ao policial entender o terreno onde pisa! E, com esse entendimento, ele pode escolher as armas certas que, por muitas vezes, não são as de fogo, mas sim a estratégia, a resiliência e a inteligência para navegar e operar com mais segurança e mais profissionalismo!
ANFITRIÃO:Você dedica parte da obra à resiliência psicológica. No ambiente tóxico e de tensão constante do cárcere, o que você recomenda como práticas individuais e institucionais para a preservação da saúde mental do servidor e quais riscos você percebe na negligência desse aspecto?
CONVIDADO:É isso mesmo! Para nós, é uma questão vital! Dediquei um capítulo inteiro a isso porque, na minha visão, a negligência com a saúde mental do policial penal é a falha mais perigosa de todas! Os riscos dessa negligência é devastador e imensurável! No livro, cito dados de pesquisas nacionais que mostram um aumento alarmante nos afastamentos por transtornos como ansiedade, depressão e estresse ocupacional. O risco mais imediato é o Burnout ou a Síndrome do Esgotamento Profissional, que leva o servidor à exaustão extrema, à desmotivação e à perda de sentido no trabalho. Um profissional nesse estado não é apenas um número na estatística de afastamentos, ele se torna um risco operacional: sua capacidade de tomar decisões fica comprometida, os erros aumentam e o ambiente de trabalho se torna ainda mais pesado para toda a equipe! No limite, a negligência - como a saúde mental - destrói carreiras, famílias e casos trágicos, como vemos em várias reportagens de mídia, até mesmo da própria vida do servidor. Para combater isso, o livro propõe uma abordagem de responsabilidade compartilhada, com práticas em dois níveis. A primeira, é a prática individual, em que o básico funciona! A base de tudo é o cuidado com o corpo, exercício físico regular, alimentação equilibrada e, principalmente, sono de qualidade! São práticas que regulam a química do estresse e nos dão uma energia para enfrentar a rotina pesada, seja do plantonista quanto do que realiza a expediente. E quebrar o tabu...o tabu da ajuda! A prática individual mais importante é entender que procurar ajuda profissional - como o psicólogo - não é uma questão de fraqueza! Pelo contrário, é um ato de imensa responsabilidade e força! É o reconhecimento de que, para cuidar dos outros, primeiro precisamos cuidar de nós mesmos!
E o segundo é "as práticas institucionais": é um apoio psicológico estruturado. A instituição tem o dever de oferecer programas de apoio psicológico e de desenvolvimento da inteligência emocional que sejam acessíveis e contínuos, não apenas reativos - após uma crise! A liderança é preparada! As chefias precisam ser treinadas para identificar os sinais de esgotamento de suas equipes e para criar um ambiente de trabalho que promova o bem-estar, em vez de ficar adicionando mais pressão no servidor! Fortalecer a segurança administrativa - que aqui está em conexão direta com a tese do livro - que uma das maiores fontes de estresse para o policial é o sentimento de abandono, de insegurança jurídica!
Quando a instituição investe em criar Procedimentos Operacionais Padrão claros, em treinar a equipe para registrar suas ações e em defender o servidor que agiu corretamente, ela está praticando uma das mais eficazes políticas da saúde mental. Ela substitui a ansiedade da incerteza pela confiança da previsibilidade! A saúde mental do servidor, não tenho dúvida, não pode ser vista como um problema individual. É uma questão estratégica de segurança! O servidor cuida de si e a instituição constrói uma muralha de proteção em torno dele, não apenas com coletes e armas, mas com apoio, clareza de processos e, acima de tudo, dando respaldo institucional!
ANFITRIÃO:Um trecho marcante da apresentação do livro afirma que o policial penal precisa ser reconhecido não apenas como executor, mas como agente de transformação institucional! Que caminhos concretos você enxerga para que essa valorização aconteça de fato, sem que se torne apenas um discurso vazio?
CONVIDADO:Aqui o senhor tocou no ponto central, um foco do que eu defendo no livro! Essa transformação é a missão mais importante que temos pela frente! Para que a valorização deixe de ser um discurso e se torne realidade, precisamos de caminhos concretos e irrefutáveis! Enxergo, aqui, quatro pilares fundamentais para essa construção. O primeiro e mais importante é a profissionalização radical através da padronização e da documentação: o policial penal deixa de ser um mero executor da força e se torna um gestor técnico da execução penal. Sua complexidade e seu valor se tornam visíveis e auditáveis. O segundo pilar é o protagonismo no aprendizado institucional: o agente na linha de frente é o maior especialista na realidade do cárcere! A instituição precisa parar de vê-lo apenas como um receptor de ordens e transformá-lo em um coautor das soluções! É quando o policial ajuda a aprimorar a doutrina que ele mesmo aplica. Ele se torna, na prática, um agente de transformação! O terceiro pilar é investimento decisivo em competências múltiplas: a valorização exige um profissional polivalente! Por exemplo, a instituição precisa investir massivamente em informações que vão além do tático! Falo de capacitação contínua em liderança, inteligência emocional, mediação de conflitos, negociação e análise de risco!
E, por fim, o quarto caminho, que é uma "liderança pelo exemplo": nenhuma transformação acontece de baixo para cima sem o total apoio de quem está no comando! As lideranças, os diretores das unidades prisionais, os secretários de estado precisam ser os maiores defensores dessa nova visão! Precisam punir o desvio, mas, acima de tudo, precisam reconhecer e promover aquele que age de forma técnica, ética e contribui para a melhoria do sistema prisional! Quando esses quatro caminhos são trilhados com seriedade, a valorização deixa de ser um pedido ou um discurso vazio, ela se torna uma consequência inevitável da excelência e da indispensabilidade do profissional, do policial penal!
ANFITRIÃO:Marchando para o final de nossa conversa, Rangel, agradeço imensamente sua presença e generosa contribuição para este conteúdo! Deixo este espaço para suas considerações finais. Grande abraço!
CONVIDADO:Dr. Clark; primeiramente, quero expressar minha imensa gratidão e dizer que sou ouvinte assíduo das suas excelentes entrevistas! Agradeço! Não apenas pelo espaço generoso em seu podcast, agradeço principalmente pela profundidade e pela inteligência das suas perguntas! Elas permitiram que fôssemos muito além da superfície de um tema que, para mim, é uma missão de vida! Se eu pudesse resumir a essência de tudo que conversamos e de tudo o que tentei transmitir na obra, seria em uma única ideia: "este livro é um chamado para que cada policial penal se enxergue como arquiteto de sua própria segurança e da credibilidade de sua instituição!" A era do improviso, daquela frase: "sempre foi feito assim!", acabou! A verdadeira força do policial penal do Século XXI não reside apenas em sua capacidade de intervenção, mas na sua habilidade de ser técnico, ético, resiliente e, acima de tudo, profissional em cada etapa do seu trabalho! A segurança administrativa não é um fardo! É a armadura que nos permite atuar com a coragem e a tranquilidade de que nossas ações, quando corretas, são plenamente defensáveis! O subtítulo da obra é uma frase que diz assim: "onde o elo fraco não pode existir". E isso é um lembrete constante de que nossa corrente é tão forte quanto o seu ponto mais vulnerável. E esse ponto fraco pode ser um procedimento ignorado, um relatório mal redigido ou um momento de complacência! Então, para cada colega que está nos ouvindo, o meu recado final é: a transformação e a valorização que tanto almejamos para nossa carreira, começam em nossas ações diárias, no compromisso com a excelência, na proteção mútua, através da padronização e no cuidado com a nossa própria saúde mental! Para quem ficou interessado em saber um pouco mais e queira adquirir a obra deste bate-papo, o mesmo está à venda na Amazon e em livrarias físicas. Agradeço aqui pela divulgação da minha obra! Mais uma vez, muito obrigado! Foi uma honra imensa compartilhar essas ideias com a sua audiência. Espero que essa conversa, assim como o livro, sirva como um ponto de partida para discussões e que fortaleçam e protejam cada vez mais esses bravos profissionais da polícia penal de nosso Brasil!
ANFITRIÃO:Honoráveis Ouvintes! Este foi mais um episódio do Hextramuros! Sou Washington Clark, do Santos, seu anfitrião! No conteúdo de hoje, finalizei a conversa com Rangel Schveiger, policial penal, especialista em gestão prisional e segurança pública, e autor do livro "Segurança Administrativa - Tática e Operacional - Onde o elo fraco não pode existir". Acesse nosso website e saiba mais sobre os nossos conteúdos! Inscreva-se e compartilhe nosso propósito! Será um prazer ter a sua colaboração! Pela sua audiência, muito obrigado e até a próxima!